terça-feira, 20 de maio de 2008

Eu, Fernanda


Foda é quando a música que toca no rádio a qual nos identificamos é a do Jorge Vercilo. A ironia não podia ser melhor nessa situação. Meu acúmulo planetário tentou me alertar disso tudo – esse não-relacionamento que viveríamos. Eu, que li Shakespeare e Pessoa, que não me emocionava com as histórias clichês de amor da televisão. Tá bom. Me emocionava, mas só um pouquinho. E, diga-se de passagem, era emoção por emoção. Não apelava para o meu lado criadora experiente e crítica voraz das relações humanas.

 
Tá aí: rendida ao Jorge Vercilo. Devo estar na TPM para me identificar com algo tão ruim: Jorge e você. O Jorge... ah! Tudo bem. O Jorge nunca me deu a ilusão de ser meu, o Jorge nunca me excitou com um beijo na nuca, nem ficou em silêncio quando eu precisava de palavras gratas.

Você – objeto da minha idolatria insana – só precisava me dar um pouco mais, mostrar-se um pouco mais. Fazer tudo o que eu não fiz com os outros caras, além de você.

A ironia não está no fato de que me querem, e eu não os quero. Você que eu quero, eu não tenho. Isso é só um movimento compensatório da minha auto-sabotagem (coisa, aliás, de gente doida). Woody Allen já falou disso naquela metáfora daquele filme... como é mesmo o nome ? Aquela sobre um sócio e um club ou tênis no clube, badminton, cricket. Não importa. O que eu vejo de forma irônica é a minha entrega para o nada.